sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Brasília, 21 de agorsto de 2013

      Eu vesti esta camisa...




         A hora já não me importa mais. É uma felicidade tão intensa que mal posso me conter aqui assim quieto no meu corpo. Preciso me mexer: são movimentos aleatórios, inicialmente. Sinto que irei nascer agora numa nova cultura, a cultura surda. 
         Eu juro que não me lembro de quando eu nasci aqui, no mundo dos ouvintes, mas quero para sempre me lembrar dos primeiros momentos nesse meu novo mundo surdo. Não chorei, mas tive vontade. O choro não expressaria muito bem o que estava acontecendo dentro de mim: era pura satisfação por poder pertencer a uma realidade ao mesmo tempo tão perto e tão distante do que eu conhecia. Procurei prestar atenção em cada detalhe. Foi impossível porque eu não entendia muita coisa. Foram momentos mágicos e, no fim, pura satisfação!
         Isso resume o meu primeiro contato imerso na cultura surda. Entrei numa outra sala, sem aquela parede estranha de vidros. Alguns colegas já estavam sentados e, então, me sentei para conversar com eles. O professor logo chegou, mas ficou na porta porque pensou que ainda estava tendo outra aula. Falamos para ele entrar, ele veio com a Marília e ela estava tão sorridente e me pareceu muito simpática. Iniciamos, então, uma apresentação pessoal com o auxílio do professor. Ele conversava com a Marília por meio de LIBRAS e também falava com a gente. A nossa amiga E. nos ajudou bastante nesse primeiro momento, porque ela já sabe muitos sinais.
         Depois de algum tempo, para minha surpresa, chegaram muitos outros surdos. Fiquei feliz demais! Nós nos sentamos em círculo sempre na disposição de um surdo e um ouvinte, para facilitar nossa interação. Nossa, foi ótimo! Eles nos deram nossos sinais que representam nossos respectivos nomes. Adorei o meu. Ficamos repetindo os nomes e os sinais, uns dos outros para fixarmos, mas confesso que não me lembro de todos. Fico até sem graça por isso. Espero que todos eles compreendam que ainda estou crescendo nesse mundo encantador deles.
         Todos os surdos foram muito atenciosos e pacientes. Eu já me sinto como sendo uma pequena parte da vida deles e quero aumentar mais ainda o vínculo com cada um.
         Foi uma tarde maravilhosa. Apesar de eu não ter conversado com todos, sinto um carinho especial pela turma. Não vejo a hora de chegar logo a próxima quarta-feira para aprender muito mais...
         Minha empolgação está tão intensa que eu tenho falado para tomos mundo sobre essa experiência maravilhosa pela qual estou passando!

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